Lucy

Estava perdendo aos poucos e sem controle. Sorria e chorava quase na mesma frequência, tamanha a ambiguidade do delicado momento. Sentia-se viva ao ouvir o barulho trazido pela brisa, som que também se esvaía, de forma progressiva e involuntária, a cada pôr do sol. Mas a dor, talvez esta a fizesse querer reverter o quadro, acordar todos os dias acreditando que suas estrelas continuavam ali, olhando por ela. Nada deveria ser ao acaso, pensara tanto, confundira-se tanto, também, pra chegar a uma conclusão, que agora não tinha motivo para estar errada. E se o certo não existia, porque seu antônimo haveria de existir?! Ela sim existia, intensa e ansiosamente. Imaginava o que gostaria de ver e viver, reinventava seu mundo a cada dia, reconstruia suas histórias, repaginava suas frases e momentos. Tapava os ouvidos. Procurava não crer em palavras soltas advindas de qualquer outra imaginação, que não a sua. Levantava, caía e voltava a levantar. Ria da queda e cuidava das feridas sem deixar ninguém tocá-las. Nunca permitiu essa invasão, por mais que teimassem em tentar.